De Barcelona surge uma revolução iminente no cenário das telecomunicações brasileiras. O encanto dos comerciais televisivos, prometendo WhatsApp ilimitado, TikTok fora da franquia e acesso grátis ao Instagram, está prestes a ceder espaço a uma nova realidade. Na visão do presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, o Brasil se encaminha para uma transformação significativa, na qual as empresas do setor passarão a cobrar pelo acesso a cada conteúdo disponível na vastidão da internet.
Os reflexos dessa mudança de paradigma foram palpáveis durante a MWC 2024, a renomada feira de conectividade que agitou a semana passada. Em uma conversa exclusiva, Baigorri compartilhou insights cruciais sobre esse cenário em evolução. Um exemplo marcante desse novo panorama é a iniciativa da Claro, que em fevereiro retirou alguns aplicativos ilimitados dos novos planos controle.
O que antes parecia uma oferta irresistível agora dá lugar a uma era onde a valorização do conteúdo se traduzirá diretamente nos custos de acesso. Prepare-se para uma nova era digital, onde cada byte tem seu preço e cada conexão redefine as fronteiras do acesso à informação.
Entenda o caso
O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações ressaltou que a prática conhecida como “zero rating” não se configura como uma questão regulatória, mas sim comercial. Segundo ele, as empresas de telefonia têm a liberdade de adotar essa estratégia, e vale destacar que há mais de uma década, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) analisou uma denúncia, concluindo que essa prática não viola a neutralidade da rede. O presidente enfatizou que as operadoras não efetuam pagamentos à Meta, por exemplo, para incluir o WhatsApp nos pacotes, tratando-se apenas de uma licença de uso de imagem.
Coincidentemente, as principais empresas do setor publicaram uma carta aberta, reivindicando uma distribuição justa dos custos poucos dias antes do início da MWC. Claro, TIM, Vivo e Algar Telecom estão entre as signatárias do documento.
Elas pleiteiam que gigantes como Google (com seu YouTube), Meta (com Instagram e WhatsApp) e Netflix contribuam financeiramente para a manutenção e expansão da infraestrutura de internet global. Essa iniciativa busca equilibrar os ônus e as responsabilidades no cenário digital em constante evolução.
O grupo projeta que o consumo médio mensal de dados por smartphone na América Latina, atualmente em 11 GB, deverá quadruplicar, alcançando 40 GB até 2028. Para elas, os bilhões de dólares movimentados pela indústria de telecomunicações na região não serão suficientes para lidar com essa crescente demanda.
O presidente da Anatel compartilhou conosco que as queixas sobre esse assunto estão presentes desde 2023. O argumento é que as gigantes da tecnologia ocupam a rede, lucram consideravelmente, e pouco sobra para as empresas de telecomunicações. Baigorri revelou sua resposta a essa reclamação: “É lógico que estão ocupando sua rede, você está fornecendo tráfego de graça. O que você espera que aconteça?”
Quando indagado se essa é uma tendência que deve perdurar, Baigorri afirmou que “imagina que sim”. A crescente demanda por dados e a ocupação da rede por grandes empresas de tecnologia estão redefinindo as dinâmicas do setor de telecomunicações na América Latina.
Claro e TIM confirmam o fim do zero rating
As grandes empresas estão atentas a essa mudança. Em uma conversa recente, questionei o diretor de marketing da Claro sobre a possível extinção do “zero rating”. Márcio Carvalho explicou: “Estamos redesenhando nossa oferta, especialmente devido à transição para o 5G, que oferece maior velocidade.
No passado, o Instagram era apenas fotos, agora inclui vídeos. Não podemos dar um cheque em branco sem saber o que os aplicativos planejam fazer no futuro.” Ele destacou o desafio da Claro em continuar investindo e remunerando esses investimentos.
Em sintonia com essa perspectiva, em fevereiro, o presidente da TIM compartilhou uma declaração semelhante à do executivo da Claro: “Fechamos as portas para o ‘zero rating’. Todos os novos planos não oferecem mais ‘zero rating’ para redes sociais.”
Alberto Grizelli também observou que “o mundo era diferente” quando essa estratégia foi inicialmente implementada. As mudanças na oferta refletem a evolução do cenário tecnológico e a necessidade de adaptação das operadoras para enfrentar os desafios atuais.
E o consumidor, como fica?
Enquanto isso, o consumidor desembolsa mensalmente quantias significativas, como R$ 100, R$ 150, por vezes até R$ 200, para garantir acesso à internet. Como podemos explicar a esse cliente que, mesmo com a possível entrada de novas receitas, a conexão não deve ficar mais acessível?
Baigorri foi direto: “Essa é uma pergunta intrigante, sinceramente não sei. Será interessante observar como os departamentos de marketing das operadoras abordarão essa questão. Compartilho da mesma dúvida: como eles irão apresentar essa narrativa?”
Ele destacou que a Agência Nacional de Telecomunicações está conduzindo uma consulta pública sobre as responsabilidades dos usuários de redes de telefonia. Essas diretrizes se aplicarão tanto a pessoas físicas, como você e eu, quanto a provedores de aplicativos conectados à web, como o Google ou o Facebook.
Perguntas frequentes
Por que os planos com aplicativos ilimitados estão sendo encerrados?
O término dos planos com aplicativos ilimitados reflete uma mudança no cenário das telecomunicações, impulsionada por evoluções tecnológicas, como a transição para o 5G. As operadoras estão ajustando suas ofertas para se alinhar a essas mudanças e garantir uma gestão mais equitativa dos recursos de rede.
O que significa “aplicativos ilimitados” e por que isso está sendo alterado?
Anteriormente, alguns planos ofereciam acesso ilimitado a determinados aplicativos, como WhatsApp, TikTok e Instagram, sem consumir os dados da franquia. No entanto, essa prática está sendo revisada devido à necessidade de equilibrar a carga na rede e adaptar-se às novas demandas de dados geradas por avanços tecnológicos.
Como a transição para o 5G influencia essa mudança?
A migração para o 5G implica em maior velocidade e capacidade de rede. Com a crescente demanda por dados, as operadoras estão ajustando suas ofertas para melhor gerenciar o tráfego e garantir uma experiência consistente para todos os usuários.
Como isso afetará os usuários?
Os usuários podem notar uma alteração nas ofertas de planos, com a remoção do benefício de aplicativos ilimitados. Isso significa que o uso desses aplicativos será contabilizado na franquia de dados do plano.
As operadoras estão investindo em melhorias na rede?
Sim, as operadoras destacam a necessidade contínua de investir e aprimorar a infraestrutura de rede para acompanhar a demanda crescente por dados e proporcionar uma experiência de qualidade aos usuários.
Haverá compensações ou benefícios adicionais nos novos planos?
As operadoras estão revisando suas ofertas para garantir um equilíbrio justo. Embora o acesso ilimitado a aplicativos específicos esteja sendo removido, novos benefícios e recursos podem ser introduzidos para proporcionar uma experiência aprimorada aos usuários.
Qual é a justificativa por trás dessa mudança?
A justificativa está na necessidade de adaptar as ofertas à evolução das tecnologias e à demanda crescente por dados, garantindo ao mesmo tempo a sustentabilidade e a eficiência das redes de telecomunicações.
Isso é uma tendência geral na indústria de telecomunicações?
Sim, essa mudança reflete uma tendência mais ampla na indústria de telecomunicações, conforme as operadoras ajustam suas estratégias para atender às demandas em constante evolução dos consumidores e do ambiente tecnológico.
Conclusão
À medida que nos despedimos dos planos com aplicativos ilimitados, entramos em uma nova era no universo das telecomunicações, moldada pelas demandas crescentes e avanços tecnológicos. A transição para o 5G e a constante evolução do cenário digital motivam as operadoras a reavaliarem suas ofertas, buscando equilibrar a oferta de serviços com a capacidade eficiente da rede.
Essa mudança não apenas reflete a necessidade de adaptação à crescente complexidade tecnológica, mas também destaca a importância de garantir a sustentabilidade e o aprimoramento contínuo da infraestrutura de rede. À medida que os aplicativos evoluem e as demandas por dados aumentam, as operadoras enfrentam o desafio de proporcionar uma experiência de qualidade aos usuários, ao mesmo tempo em que asseguram a justiça na distribuição de recursos.